Religião tecnológica
Escrevi os meus primeiros livros numa velha máquina de escrever que ainda nem era eléctrica e lembro-me de ter de passar tudo a limpo várias vezes (e das dores nas costas) por não gostar de entregar à editora folhas rasuradas. O computador pessoal trouxe imensas vantagens ao meu trabalho – como autora e como editora – e hoje já não viveria sem ele. Há, porém, coisas para as quais ainda o dispenso, e – sei lá porquê – não me passaria pela cabeça sentar-me a escrever um poema directamente num teclado de computador. E, contudo, li recentemente que nem as coisas mais sagradas estão livres de uma adequação tecnológica. Pois é, o Vaticano acaba de lançar uma aplicação para o iPhone com vista a receber confissões dos crentes. O programa, chamado Confession, custa pouco mais de um euro e meio e oferece aos utilizadores dicas e orientações que lhes permitem obter o perdão divino... Se Fernando Pessa ainda fosse vivo, certamente diria: «E esta, hein?»