Do pequeno para o grande
O mundo rege-se por modas – e os livros não fogem a elas. Durante os primeiros anos de vida editorial, lembro-me de que era muito difícil vender calhamaços em Portugal – se não se tratasse, evidentemente, de histórias ou ensaios exaustivos sobre determinado assunto, que tinham de ser grandes para serem credíveis. Mas a literatura queria-se sucinta e, sempre que se publicava um romance de 500 páginas ou mais, sabia-se de antemão que se estava a correr um risco e só se apostava quando se cria que a coisa era mesmo genial. Às vezes, paginavam-se estes livros maiores com letra pequena e parco entrelinhamento, para que o leitor não se assustasse com a grossa lombada na hora de escolher. Porém, a partir do momento em que os meninos todos do mundo se puseram a ler livros de 700 páginas (como os da saga Harry Potter) e Dan Brown produziu o bestseller internacional O Código Da Vinci, parece que os leitores se habituaram aos «tijolos» e já não querem outra coisa. Quando pagam, fazem questão de levar para casa material de leitura suficiente para muitos dias e, nas livrarias, desviam-se dos livros pequenos que não lhes oferecem senão algumas horas de prazer. Bem sei que, se calhar, o tamanho levará certas pessoas a não temerem agora a leitura de obras como Guerra e Paz, de Tolstoi, mas serão ignorados por causa disso livrinhos breves mas suculentos como O Amor Louco, de André Breton?