Sem comentários
Nasci num tempo em que não havia liberdade de expressão e fiz, ainda adolescente, muitas perguntas que não tiveram resposta. Era perigoso falar-se de certas coisas, mais ainda a alguém sem maturidade suficiente para compreender o secretismo das matérias ou as consequências de partilhar ingenuamente assuntos controversos. Talvez por isso, quando iniciei este blogue, tenha decidido não fazer moderação de comentários (e também, não vale a pena negar, porque o meu trabalho quotidiano não me concederia tempo para escolher e publicar apenas os que tivessem realmente interesse para a discussão). Esta possibilidade que ofereci aos leitores encarei-a desde sempre como uma homenagem minha, por pequena que fosse, à liberdade de expressão – e é assim também que a vejo aberta noutros blogues, jornais online e sites de Internet. Às vezes, porém, penso que certas pessoas, quase sempre descompensadas, tomam esta abertura como, desculpem, um autêntico escarrador, no qual depositam, implacavelmente, o pus e o sangue das suas feridas por sarar. Quando foi, por exemplo, noticiada a promulgação da lei do casamento homossexual, os comentários na página de um jornal diário que consultei eram de tal forma alarves e ofensivos que dificilmente acreditei que pessoas como aquelas pudessem ler jornais. Mas também aqui no blogue, por duas vezes, a coisa desceu tão baixo que considerei a hipótese de alterar as regras, sobretudo porque os comentários não eram a nada do que escrevi, mas a pessoas que referi nos meus textos e não se podiam defender - e, o que é pior, assinados de forma impossível de identificar. Porque será que quem se sente no direito de espezinhar alguém de forma gratuita raramente tem coragem para assumir a sua identidade? Agradeço muito, pelo contrário, aos que me desafiam todos os dias, aos que estão contra mim e mo dizem, escrevendo com todas as letras quem são.