A minha mãe
A minha mãe não estudou grande coisa porque teve de começar a trabalhar bastante cedo, mas sempre gostou muito de ler e sempre leu muito. Agora, que tem 85 anos e tempo de sobra, lê mais ainda, incluindo o jornal de ponta a ponta (necrologia e tudo). Passa, por isso, a vida a pedir-nos livros emprestados e comenta-os connosco (às vezes, diga-se de passagem, severamente). Há uns tempos começou, porém, com aquela conversa (lá chegaremos) de que não lhe déssemos coisas que a aborrecessem, pois tristezas já a vida tinha de sobra. Descobrimos, então, cá em casa um desses romances leves para senhoras que se vendem bastante bem nos dias de hoje, passado em Itália e romântico, que, por ser comprido, achámos a ia entreter por umas semanitas. Como fomos ingénuos… Às primeiras páginas, já ela estava a ligar para nós, francamente indignada, protestando que aquilo era de baixíssima qualidade e não tinha chegado à idade a que chegou para voltar a ler literatura juvenil. Devolveu-o sem o acabar, claro. Lição aprendida.