Por causa de um artigo publicado no suplemento literário do Público sobre jovens narradores, criou-se uma polémica no Facebook quando a jornalista Raquel Ribeiro perguntou porque eram estes quase todos do sexo masculino. Muitos dos intervenientes defenderam que, na verdade, não são, mas que a comunicação social é, de algum modo, machista e só dá destaque a escritores homens; houve um escritor homem que pediu então licença para intervir no meio de tantas mulheres e disse que os editores têm muita culpa – porque, como há muito mais mulheres do que homens a ler, promovem melhor os livros de autores masculinos a pensar nos «consumidores». Todos terão alguma razão, embora eu, como editora, não faça nada disso; e a verdade é que recebo dezenas de originais todos os meses para avaliar mas, lamentavelmente, só dez por cento são escritos por mulheres. Em tempos, disse à mesma jornalista Raquel Ribeiro que achava que isso podia acontecer porque as mulheres, lendo mais, são mais exigentes com o texto e não se aventuram a escrever qualquer coisa (como muitos dos aspirantes a escritores que me mandam livros para avaliação); mas uma das leitoras dessa entrevista afiançou num blogue que, apesar de os tempos estarem decididamente a mudar, as mulheres ainda têm uma vida muito ocupada com a criação dos filhos e a organização doméstica, pelo que não lhes sobra grande tempo para se dedicarem à escrita, inclusivamente quando, como era o caso, gostariam de o fazer. É provável que, mesmo existindo ainda preconceito de género, esta seja mesmo a principal razão.
5 comentários
RC 11.05.2011
Cristina, o seu argumento relativo ao Prémio Saramago faria sentido não fosse o seguinte: alguém sabe que Paulo José Miranda também venceu o dito?
Pois é, ninguém sabe, poucos se lembram. Foi o primeiro vencedor, logo antes do José Luís Peixoto.
E até acho que a Adriana Lisboa (por via dos suas recentes obras) tem sido mais falada do que ele. Por outro lado, não esqueçamos que a Adriana Lisboa é brasileira e que, por isso, é natural que a sua vitória não tenha tanto impacto em Portugal.
E já agora, outra questão para reflexão: Independentemente do sexo dos jornalistas da área cultural, embora ache que isso não deveria interessar nada, os críticos literários influentes são todos homens. São esses críticos que geram o "hype", são esses críticos que dão a sua bênção aos autores que se tornam mediáticos de um dia para o outro (à mistura com algum trabalho de marketing das editoras). Será que isto também contribui para a posição mais "obscura" da mulher na imprensa literária? Ou não? Eu gostaria que fosse feita uma contagem de críticas feitas por esses críticos a autores homens e mulheres (atenção que falamos de gente mais jovem, e não de autoras consagradas como Agustina, Hélia Correia ou Lídia Jorge). Talvez aí as conclusões fossem esclarecedoras.
Achar que isso não deve interessar não me parece um critério muito válido para chegar a uma conclusão. E só mais uma achega: acha que a crítica literária tem assim tanta influência no sucesso de um livro? Pois eu digo-lhe que um minuto na televisão vale muito mais (vendas), representa um ganho de notorieade muito maior, do que uma crítica positiva no suplemento literário de um jornal. Isto para lhe dizer que os críticos, embora importantes, não são tão importantes para a construção da imagem do autor como os jornalistas.
Isso depende de quais os críticos literários que estamos aqui a falar... De qualquer modo, não vou alongar-me mais nesta discussão, uma vez que já excedi o meu tempo de visita da caixa de comentários deste blogue.