Criancices
Há um lado infantil em cada um de nós que permanece ao longo de toda a vida. Quando vejo o Manel a ver um desafio de futebol, dando às vezes pontapés no ar e dizendo coisas sobre os adversários que ainda parecem insultos do tempo da escola, descubro nele esse lado de criança. O meu está em coisas, se calhar, não tão bonitas – como, por exemplo, não resistir a pôr nas livrarias os livros que publiquei por cima de outros quando acho que estão escondidos ou mal expostos. E os que tapo com eles são quase sempre de autores de que não gosto ou acho que ninguém ganha em ler… Mea culpa. Mas não sou só eu que escondo livros. Há umas semanas, numa livraria do Algarve, andei a ver se os livros que publiquei este ano estavam à vista e, de um deles, não havia sinais. Fingi-me então uma cliente e perguntei se o tinham. O senhor lembrava-se perfeitamente do título e andou a vasculhar a loja, acabando por encontrar três exemplares… mas dentro de uma gaveta! É por essas e por outras que sinto que as minhas malandrices estão mais do que perdoadas.