Disfarçados de ricos
Com a situação actual, estão a surgir todos os dias novos pobres: além dos que de certa forma já o eram e sofrerão agora mais com os aumentos de tudo, os que perderam o emprego por falência ou estratégia das empresas onde trabalhavam e aqueles que se deixaram iludir pelos bancos e viviam claramente acima das suas possibilidades, não conseguindo agora manter o nível nem, muito provavelmente, pagar tudo aquilo que ainda devem. É sobre este último grupo que, a todos os títulos, vale a pena ler o romance As Viúvas das Quintas-Feiras, de Claudia Piñeiro, uma argentina que foi considerada uma das melhores escritoras da América Latina com menos de 40 anos. Num condomínio de luxo, paredes-meias com um bairro de lata, podemos assistir neste romance à derrocada de um grupo de pretensos ricos, que empenham literalmente a vida pelo sonho de parecer o que não são. Da mesma autora, li também uma novela intitulada Elena Sabe, que não sei se está traduzida em português, sobre a relação de uma mulher com a mãe que sofre da doença de Parkinson e que pode ser o seu melhor livro, mas é de tal forma um soco no estômago que nem me atrevo a aconselhá-lo nos tempos negros que vivemos.