Uma grande autora portuguesa
Dulce Maria Cardoso ganhou o Prémio da União Europeia para a Literatura em 2009, o que, infelizmente, não a tornou mais conhecida. E digo «infelizmente», porque se trata de uma grande escritora portuguesa que devia ser mais lida e criticada em Portugal (acho que teve mais críticas e recensões na imprensa holandesa do que aqui, o que é, no mínimo, estranho). O seu romance mais recentemente editado entre nós (penso que não tardará o próximo, mas só agora tive disponibilidade para ler este) chama-se O Chão dos Pardais e constitui um inteligente mosaico de personagens – Alice, Afonso, Sofia, Júlio, Elisaveta, Clara, Lily, Manuel, Gustavo – que se vão cruzando de maneira insuspeita e surpreendente numa história (em várias histórias, melhor dizendo) onde o amor e o ódio são muitas vezes a mesma coisa. Umas frases para aguçar a curiosidade: «O ódio precisa de ser alimentado e o silêncio é uma maneira bastante eficaz de o fazer. Caso enfraqueça, o ódio transforma-se numa mágoa que contrai um bocadinho o estômago ou amarga um bocadinho a boca. Ao contrário do ódio, a mágoa é muito desinteressante. Há tanto a dizer sobre as mágoas como há a dizer sobre os sapatos que apertam demasiado. Nem umas nem outros matam e nem umas nem outros dão vontade de matar.»