Pescadinha de rabo na boca
Vem este post a propósito de um comentário muito acertado feito neste blogue na semana passada, no qual os editores eram responsabilizados pela fraca qualidade de alguns livros que andam por aí. Luís Filipe Cristóvão – escritor e livreiro (com uma livraria belíssima em Torres Vedras) – tem obviamente razão em apontar-nos o dedo, e nem todos os dislates em forma de livro que por aí circulam são apenas obra de revisores descuidados. Embora esse não fosse o principal objectivo do meu post (e, sim, o facto de se atribuírem prémios de monta a livros crivados de erros), a verdade é que os editores são provavelmente os grandes responsáveis pela quantidade de livros maus e medíocres que hoje estão à venda, muitos deles de gente celebrizada por qualquer outra actividade que não a escrita. Às vezes, pergunto-me como foi que isto começou, quando foi que se decidiu ignorar a qualidade do texto em detrimento dos resultados financeiros e, através da publicação de obras às vezes tão rasteiras, trazer para a leitura gente que nunca tinha lido um livro mas que, a partir destes péssimos exemplos, nunca conseguirá realizar uma experiência de leitura que seja, ao mesmo tempo, formadora, enriquecedora e agradável. Mas também penso que os editores nem sempre pactuaram simplesmente com um sistema em que a receita é mais importante do que os valores abstractos e que, por vezes, o que tentaram – quiçá até com boas intenções – foi disponibilizar leituras mais apropriadas a uma população leitora que apareceu com o aumento da escolaridade obrigatória, que tem tanto direito a ler como a classe intelectual e que, por mais que queiramos, nunca seria capaz de compreender e fruir os chamados autores literários. Pescadinha de rabo na boca, enfim.