Lembrar, sempre lembrar
Fiquei arrepiada quando ouvi dizer que, no Reino Unido, o Holocausto tinha sido banido dos programas de ensino porque podia ofender os muçulmanos. O mundo está louco, pensei. Como podemos passar assim uma borracha num genocídio como aquele? Lembrar o Holocausto e os seus horrores às novas gerações parece-me a única medida inteligente para prevenir réplicas (mesmo que os norte-americanos tenham muitas teorias sobre os perigos de os jovens repetirem o que vêem). A este propósito, há um livro que me parece fundamental: trata-se de O Comprador de Aniversários, de Adolfo García Ortega (escritor e editor espanhol), romance curto que traz para o seu centro uma criança que Primo Levi refere ter encontrado em Auschwitz no seu livro Se Isto É Um Homem. O livro é um pontapé no estômago, claro, mas é belíssima a forma como Adolfo García Ortega inventa a esta criança uma vida, companheiros e, sobretudo, um passado (porque o futuro já sabemos todos qual é) que vai até à forma como os seus pais se conhecem e apaixonam em Varsóvia pouco antes de serem confinados ao gueto donde partirão para o campo de extermínio. A lembrar, claro. Por todas as razões.