O mal dos pequenos
Diz o autor de As Mãos Pequenas, publicado na bela colecção Minotauro, que muito provavelmente não teria escrito o livro se não lhe tivessem lido o Requiem por Um Menino Morto, de Rilke. Pois ainda bem que lho leram, porque Andrés Barba é um jovem escritor espanhol digno de nota e esta novela a prova de que poderá ir longe na literatura. Partindo de uma premissa interessante, que é a de uma menina de família ficar precisamente sem família aos sete anos na sequência de um desastre que lhe mata os pais e ser, por isso, entregue a um orfanato, esta é a história de um confronto – entre quem chega e quem estava, entre o indivíduo diferente e a massa incaracterística, entre a memória e a hipótese, morta à nascença, de um futuro. Brilhantemente escrito, com uma tradução cuidada, violento porque a infância está sempre cheia de maldade, mas elegante e subtil na sua descrição, não se perca esta obra singular e inteligente que é também sobre o fascínio do desconhecido e a incapacidade de amar o que não se compreende.