Ler e não ler
Há pouco tempo fui passar um fim-de-semana junto ao mar; e, embora tivesse levado comigo um livro, não consegui passar das primeiras trinta páginas, tão precisada estava de ter os olhos todos para as ondas. Sou uma mulher tipicamente urbana, mais de me fechar em casa a ler um bom livro, mas em certas ocasiões também não dispenso isso a que chamam contacto com a natureza e que me traz excelentes recordações de infância de férias ao ar livre com passeios de bicicleta, caminhadas no areal e explorações científicas em pinhais e terrenos abandonados. Hoje as crianças das cidades estão muito metidas em casa e, quando não, trocam frequentemente a rua e o jardim pelos corredores dos centros comerciais, nos quais as pessoas se atropelam aos sábados e lambem montras cheias de coisas que nunca poderão comprar. Li que algumas crianças americanas, quando lhes pedem que desenhem uma galinha, a representam depenada e embalada como a vêem no supermercado, porque nunca tiveram realmente oportunidade de ver ao vivo um simples pintainho. E, por muito que ler seja importante, nada substitui o pôr as mãos na terra e descobrir. Nenhuma ilustração do mar substitui as verdadeiras ondas.