Palavras, palavras, palavras
Adoro palavras, sobretudo palavras novas, pois, com a idade e as leituras, cada vez há menos vocábulos desconhecidos. Gosto de saber de onde vêm, como se formaram, em que língua ou país foram, pela primeira vez, utilizadas. Se não me tivesse distraído aos 17 anos, muito provavelmente teria ido para Clássicas e estaria hoje mergulhada nas maravilhas da etimologia (talvez até tivesse um blogue muito diferente deste). A verdade é que vivo rodeada de dicionários, que tenho prateleiras cheias deles (de rimas, de lugares, de nomes próprios…) e que me divirto a consultá-los como a ler poesia ou ficção. E, como não cheguei a estudar latim e grego (e agora é tarde para isso), acabo sempre fascinada quando descubro, por exemplo, que a palavra «desastre» significa aquilo que acontece quando os astros não estão connosco («des» é «não», como em «des-fazer», e o resto já todos perceberam, não vale a pena explicar). O meu dicionário preferido, aquele que guardo e acarinho como um desses romances que nunca vou esquecer, é o Dicionário Houaiss. Tenho-o em casa em três volumes gordos e, na Leya, em dezoito mais franzinos e fáceis de consultar, numa edição especial que foi vendida com um jornal. E não há dia em que não o abra. Gostava de ter o senhor Antônio Houaiss aqui à mão, com o seu sotaque quente do Brasil, a dizer-me o que quer dizer isto e aquilo e porque é que «atarraxar» se escreve assim, e não com «ch», como durante tanto tempo pensei. Não podendo, resta-me o seu dicionário quase perfeito.