O primeiro a saber
Um dia destes, jantámos com Pilar del Río e, como o assunto Nobel da Literatura veio mais uma vez à baila, ela contou-nos uma história deliciosa. Parece que, durante muitos anos, em Espanha, todos tinham esperança (e fé) de que o escritor Miguel Delibes recebesse, mais cedo ou mais tarde, o galardão (morreu, no entanto, em 2010 sem que isso chegasse a acontecer). Então, no dia e hora marcados pela Academia Nobel para o anúncio do premiado, não era raro ver à porta de sua casa um bando de jornalistas das rádios, televisões e imprensa espanholas, armados de gravadores, câmaras de filmar e canetas, para – a confirmar-se a suspeita – serem os primeiros a entrevistar o nobelizado. Mas, como disse, Delibes nunca chegou a receber o prémio. E, porém, num tempo em que estávamos ainda longe dos dispositivos portáteis e da tecnologia que permite saber a notícia em tempo real, o escritor dava-se ao trabalho de, assim que sabia quem fora o feliz contemplado por algum colega mais bem informado, vir cá fora dar a boa nova aos jornalistas, que tomavam nota, agradeciam e logo debandavam, deixando-o de novo em paz.