Andar para trás
Agora, que os Portugueses estão condenados a grandes sacrifícios por via da dívida externa do País, disse-me um político e economista que não teremos outro remédio senão vivermos como vivíamos nos anos 80 do século passado. Os custos não serão apenas os reais (subsídios cortados, desemprego, ausência de regalias e férias passadas no autocarro para a Costa de Caparica, e não em Punta Cana ou Varadero), mas também os da chicotada psicológica que foi terem-nos permitido ao longo de tantos anos experimentar o que, afinal, não passava de uma ilusão. Quando ouvi aquilo, perguntei-me se não teria sido melhor não termos chegado sequer a provar a guloseima, já que a experiência de passarmos de cavalo para burro é seguramente mais traumática do que a de permanecermos potros toda a vida. Que será, por exemplo, ficarmos de repente sem estruturas como a FNAC – hoje parte integrante do nosso quotidiano – que, na Grécia, segundo contou ao Manel um editor grego, já fechou as lojas e saiu do país? Ou deixarmos simplesmente de publicar livros, como também lhe explicou esse editor, não porque não haja leitores, mas porque as lojas, com a crise, não encontrarão forma de pagar? Depois de vivermos – mesmo que num arremedo de sonho impossível – no século XXI, será que conseguiremos realmente recuar trinta anos?