Livro e filme
Raramente um filme baseado num bom romance que lemos nos agrada. Temos a escrita demasiado dentro de nós para conseguirmos separar duas linguagens distintas – e o mais frequente é falarmos logo do que não aparece no filme. No entanto, mesmo sacrificando cenas, partes, estrutura, linguagem, ideias, há filmes que nem são nada maus e, entre eles, poderia, por exemplo, citar A Insustentável Leveza do Ser, O Paciente Inglês ou, mais recentemente, Expiação. O do meio pareceu-me uma notável adaptação de um livro que nunca esquecerei: O Doente Inglês, de Michael Ondaatje. Claro que todas aquelas viagens pelo deserto a sós que existem no romance seriam um tédio na tela – mas senti a falta delas; claro que, no livro, a história de amor é só mais um episódio numa narrativa muito cheia sobre um homem apaixonante – e tenho a ideia de que a personagem da enfermeira é bem mais importante que a mulher amada (no filme, a actriz que o desempenhava venceu o Óscar de melhor actriz «secundária»). Em todo o caso, não podemos generalizar nem ser injustos com os realizadores e os argumentistas. Às vezes (raras, bem sei), eles fazem grandes filmes de grandes obras.