A Booker is a Booker is a Booker
Há prémios que não me dizem nada, mas tendo a confiar no Booker Prize, pois provavelmente a maioria dos romances que chegaram à final ou venceram esse prémio foram livros de que gostei bastante ou de que gostei muito. Nos últimos anos, claro, houve algumas excepções (Bernardine Evaristo não é a minha praia, devo dizer...) e o Booker, como todos, teve alturas em que fugiu mais para as questões fracturantes do que para a literatura, o que me desiludiu; ainda assim, a média manteve-se muito alta em termos de qualidade. E não é que este não tenha qualidade, mas o penúltimo vencedor do Booker Prize Internacional publicado em Portugal pareceu-me na verdade aborrecidíssimo: repetitivo, pretensioso, cheio de filosofices e com referências muito óbvias a peças de música clássica, não sei explicar, mas li-o arrastando-me ao longo de muitas páginas e suspirei de cansaço em alguns capítulos, quase iguais a outros que tinham aparecido umas quantas páginas antes. Calculo que o problema não seja do livro, mas meu; afinal, os encómios lá fora e cá dentro a este livro (Kairos, de Jenny Erpenbeck) repetem-se, e a badana até sugere a ainda jovem autora como obviamente nobelizável (expressão retirada de um artigo de um jornal bastante respeitável); por isso devo ser eu que ando sem grande ânimo para leituras do tipo. Aos que já o leram pergunto se gostaram, talvez isso me possa dar uma ideia clara sobre o meu estado actual, mesmo que não sobre o romance. Um autor que publico, ao entregar-me o seu último original, perguntou-me se ainda estaria bem de cabeça e podia continuar a escrever. Eu pergunto a quem já leu se a minha cabeça ainda estará boa para apreciar originais...