A companhia dos livros
Há uns anos, resolvi que a minha assinatura dos e-mails poderia ser enriquecida com uma frase que, de algum modo, tivesse que ver comigo e com as minhas funções. Escolhi nessa altura uma de que não me arrependi e ainda lá está, debaixo do meu nome, em português e inglês, de cada vez que envio um e-mail. Diz «Lemos para sabermos que não estamos sozinhos» e o seu autor é o britânico C. S. Lewis. A leitura é de facto uma excelente companhia e a mim já me salvou de umas quantas depressões. Uma vez, Mario Vargas Llosa contou ao vivo que, em adolescente, ler sobre o sofrimento alheio o fez sentir-se menos só e triste no colégio interno onde o padrasto o metera. Ler é isso, como diz a frase que escolhi, descobrirmos que não estamos sós nos nossos infortúnios. Encontrei no mural do Facebook de uma amiga um cartaz bonito que dizia «Não estou sozinho, tenho muitos livros», o que é só mais uma maneira de dizer que a leitura faz mesmo companhia; no entanto, há momentos em que ler não pode ser uma obrigação, e a grande Virginia Woolf, numas resoluções para o Ano Novo em 1931, escreveu, entre outras coisas: «Ser livre e gentil comigo mesma [...] Às vezes ler, às vezes não ler. Sair, sim, mas ficar em casa apesar de convidada. Quanto a roupas, comprar boas.» Pois, às vezes não ler também é muito bom, sobretudo para quem lê por profissão o dia todo.