A fingir
Está desde há dias no mercado o novo romance de um escritor que é, para os Extraordinários, muito especial, até porque no passado ofereceu o retrato a alguns dos membros deste «clube». Estou naturalmente a falar de João Pinto Coelho, o autor de Perguntem a Sarah Gross e Os Loucos da Rua Mazur, romances que foram, respectivamente, finalista e vencedor do Prémio LeYa. Desta feita, saímos da Polónia gelada para a muito mais temperada Toscana, onde conheceremos Annina Bemporad, uma judia linda e rebelde que acorda a meio da noite com o ruído de um tiro e descobre que se tornou adulta. Isso obrigá-la-á a trabalhar, tornar-se uma mulher responsável e buscar um futuro digno. Mas, por se recusar a entregar o seu amor ao sobrinho do fascista-mor da cidade – e, ainda por cima, o humilhar em público –, este vai garantir que ela não possa realizar os seus sonhos. A essa impossibilidade somar-se-á a ocupação da Itália pelos alemães, que, claro, perseguem os judeus. Hão-de valer a Annina a sua amiga Alessia, uma lésbica excêntrica, e Peppino, o homem que monta espectáculos com lixo e é amigo dos homens da Resistência. Profundamente imaginativo e rigorosamente documentado, Um Tempo a Fingir é um romance magistral, cujo enredo tem a rara qualidade de ser ao mesmo tempo absolutamente inesperado e completamente verosímil. Mais um grande livro de João Pinto Coelho.