ADN
Uma Questão de ADN, um programa da TSF conduzido pela excelente jornalista Teresa Dias Mendes. é um dos que insisto em não perder. O ponto de partida é escolher alguém que está a dar que falar por alguma razão e juntar-lhe outra pessoa da mesma família (daí o ADN) para que a conversa a três siga naturalmente por caminhos mais privados e desconhecidos. Recentemente, calhou a vez a Paulina Chiziane, a propósito da entrega do Prémio Camões, e à sua filha, psicóloga clínica, Maria Salomé Cabo. E achei piada quando esta contou que nunca valorizara excessivamente o que escrevia porque, desde miúda, via a mãe deitar fora textos que lhe mostrara e que ela achara maravilhosos. O grau de exigência de Paulina, porém, acabou por condicionar a filha (que, ao que parece, escreve poesia que outros elogiam, mas não a publica). A questão tem a sua graça. Na arte de representar, há imensos filhos que seguem as pisadas dos pais (basta olhar para Hollywood); na música, são também muitos os casos de hereditariedade (basta ver os concertos de Caetano Veloso com os seus três filhos); porém, na escrita, embora haja alguns casos (Martin Amis é filho de Kingsley Amis), julgo que há menos exemplos de escritores filhos de escritores. Será que os filhos têm receio do juízo dos pais, ou serão os pais que os tornaram demasiado exigentes?