Afinadíssimo
Fico muito triste se se me apaga da lembrança um livro que li, sobretudo quando, mesmo esquecendo em traços largos o enredo, recordo muito bem o quanto gostei dele. Isso aconteceu-me recentemente com Concerto Barroco, do cubano Alejo Carpentier, que decidi reler em férias para poder descobrir porque tanto o amara da primeira vez. E é realmente um pequenino livro-maravilha, um concerto literário fascinante. Fala do encontro em Veneza, durante a época do Carnaval, de um comerciante de prata mexicano que viaja na companhia do seu escravo, rapaz extremamente vivaço e talentoso, com Haendel, Scarlati e o frade ruivo que dá pelo nome de Vivaldi. Pelo meio, ao lado dessas quatro figuras, ouviremos a pequena orquestra de órfãs que foram deixadas na roda do convento em que os outros se resguardam da confusão e depois assistiremos ao pequeno-almoço que as freiras preparam no cemitério de San Michele (onde está sepultado Stravinsky que, apesar de ser um músico do século XX e portanto não contemporâneo dos seus confrades, arranca deles comentários bem divertidos avant la lettre). Barroca e irresistível, esta novela belíssima pode fazer companhia a Os Passos Perdidos, outra maravilha de Carpentier.