Ainda as palavras
Ontem falei aqui do perigo de morte de certas palavras que as novas gerações já não usam e da importância de as passarmos, nem que seja como curiosidades, aos mais novos. Na verdade, esqueci-me de contar uma história que vinha a propósito. Um autor de romances que publiquei em tempos, Hugo Gonçalves, e também um grande cronista que escreveu no DN, contou no Facebook: «Fosso de gerações: hoje ligou-me uma rapariga muito simpática a saber como corria a renovação da minha assinatura digital de um jornal: "Teve oportunidade de usar a app e ver se está tudo bem?" Respondo eu: "Hoje só passei os olhos pelas gordas." Silêncio. Ela não fazia a mínima ideia do que eu queria dizer com aquilo.» A história não acabava aqui, tinha ainda uma nota de humor sobre o desaparecimento da palavra «gordo» dos livros de Roald Dahl, de que também já aqui falei; mas, para o caso, o que queria dizer é que me aconteceu exactamente o mesmo «fosso de gerações» com a expressão «ir ao baeta» quando uma ex-assistente minha, na geração dos vinte, tinha feito um novo corte de cabelo e eu lhe disse que fizera muito bem em «ir ao baeta». Lembro-me de, quando eu era pequena, «giro» soar esquisito na boca da minha avó (que dizia «jeitoso»), mas qualquer dia «giro» vai ser uma antiguidade...