Ainda Estou Aqui
Foi com o propósito da continuidade que na passada sexta-feira transcrevi um excerto do livro do escriotor brasileiro Rubens Paiva intitulado Ainda Estou Aqui, que conta o que aconteceu aos pais em plena ditadura no Brasil, nos anos 1970. O pai, um engenheiro que ajudava as famílias de alguns oposicionistas ao regime, é levado certa tarde de casa pela polícia política para um interrogatório, deixando a mulher e os cinco filhos extremamente preocupados. Pouco depois, é a vez de a mulher e uma das filhas serem também levadas e interrogadas, ficando a mulher presa numa cela absolutamente horrível durante uma série de dias, sem se poder sequer lavar, até que, depois de perceberem que ela não conhecia as actividades do marido, a devolvem a casa à qual, porém, ele não voltou. Terá a partir de então de vender coisas, de sustentar sozinha os filhos, decidindo voltar a estudar e tornando-se uma advogada e defensora dos direitos humanos, nunca desistindo de saber o que foi feito do marido e exigindo uma declaração clara do que lhe aconteceu por parte das autoridades (o que conseguirá já depois dos 60 anos). Sendo o romance muito mais completo do que o filme (com documentos e relatos muito mais detalhados), este estreou há uns dias, e vale também muito a pena, não só pelo desempenho irrepreensível dessa actriz maravilhosa que é Fernanda Torres, filha do monstro sgarado Fernanda Montenegro e autora de pelo menos dois romances publicados em Portugal. Vejam o filme e leiam o livro, publicado pela minha colega Cecília Andrade, na Dom Quixote.