Amigas e concorrentes
Quando há epidemia, todos corremos o risco de ficar contagiados. Não sucumbi ainda completamente à febre de Elena Ferrante, mas, sim, estou no bom caminho para apanhar a doença. Li com prazer A Amiga Genial, o primeiro livro de uma tetralogia que conta a história de uma muito singular relação entre Lenuccia e Lila, duas amigas de um bairro pobre de Nápoles, nascidas nos anos 1950 marcados pela Segunda Guerra Mundial e o fascismo italiano, bem como pelo poder das máfias. Elena Greco (a Lenuccia, ou Lenù) é filha de um porteiro e de uma mãe estrábica e coxa que lhe faz a vida negra, apesar de acabar por condescender em que ela prossiga os estudos, depois do pedido de uma professora dedicada. Mas é Rafaella (ou Lina, ou Lila, como lhe chama a amiga), filha e irmã de sapateiros (e como os sapatos são importantes nesta história!), aquela que, pelo seu carácter determinado e a sua inteligência, teria à partida mais condições para singrar na vida (mas a família não pode pagar-lhe a escola – e o que ela aprontou com a professora primária contribuiu para que ninguém se interessasse muito pelo seu caso). Da infância e juventude das duas raparigas – com muitos altos e baixos numa relação que é sempre de dominadora e dominada, queira-se ou não – fala este livro fascinante que tem feito furor em todo o mundo e tornado internacionalmente conhecida uma autora que, como aqui já contei, insiste em permanecer anónima e não dar a cara junto dos leitores. Depois da descrição do casamento acidentado de Lila, vou ter mesmo de ler o segundo volume para saber o que lhe acontece na lua-de-mel.