Amor, amor
Muitas vezes subestimamos o amor adolescente. Quando há um desgosto, alguém diz logo que passará em três tempos e logo aparecerá uma nova paixão. O livro que acabo de ler, uma maravilha tão boa e tão triste que comove a cada palavra lida, mostra bem que há amores tão profundos na juventude que, quando tudo vai contra eles, o desespero pode levar os seus actores a situações-limite. Falo de Trilogia, de Jon Fosse, um romance em três partes (daí o título), inicialmente publicadas autonomamente e em datas diferentes, mas que vivem de certeza melhor agarradinhas umas às outras. São três momentos de uma relação entre Asle e Alida, dois jovens de dezasseis anos muito apaixonados, ele completamente só no mundo (a mãe morreu-lhe há pouco), ela com problemas familiares: um pai que desapareceu quando era pequena (e se ela o amava!) e uma mãe bastante brusca e amarga que não a trata bem. Alida descobre que está grávida e, por isso, ela e Asle terão de fugir da aldeia, mas para isso precisarão de um barco que não têm; e depois de uma casa que não têm; e depois de alguém que ajude Alida a ter a criança; e de matar a fome, enfim... de muitas coisas que não são exactamente fáceis de arranjar num lugar onde não conhecem ninguém e uma rapariga grávida com aquela idade é vista como uma indigente. Tudo isto provocará episódios tremendamente tensos, e lemos este livro sempre com o coração nas mãos, e tristes por eles: pelo rapaz que ama e fará tudo (tudo mesmo) pela sua namorada; e pela rapariga perdida, uma mãe imberbe e sempre tão cansada que conta absolutamente com o namorado para continuar. É lindo, como já era Manhã e Noite, do mesmo autor. O Nobel bem que podia ir para o senhor Fosse um dia destes. Na Noruega, os reis deram-lhe uma casa no recinto do próprio palácio.