Apelidar
Usamos em Portugal a palavra apelido para sobrenome, termo este usado pelos nossos irmãos brasileiros, para os quais apelido é aquilo a que nós cá chamamos alcunha. E, por falar em alcunhas, são famosas as alentejanas, claro, mas descobri numa crónica escrita pelo escritor e jornalista Joel Neto que, nos Açores, também as há com graça e imaginação e que por lá se designam curiosamente apelidos. Diz ele que só na sua terra a variedade é grande, que há apelidos antropomórficos (como Barbado, Carrapicho, Fininho ou Rasteiro – e explica que chamar Rasteiro a alguém é muito diferente de chamar Anão) e zoológicos: Besouro, Formiga ou Porca Amarela são exemplos disso (e eu, não sendo açoriana, fui Formiga anos a fio na escola por ser pequena e não parar quieta, mas nunca me chamaram, graças a Deus, Rasteira); que podem vir de uma antiga profissão de família (Cabreiro, por exemplo, e até Bispo), de um lugar a que se pertence (Das Bicas, Da Serra) ou mesmo de uma dinastia (Das Bernardas); que reflectem singularidades individuais (Mudo, Ligeiro), estão cheios de ternura (Cachinha, Estacinho, Zanguinha), acusam o ponto fraco (Chorica, Cara Suja) ou, como ele diz, são para esquecer (Peidão e Cagão). Portanto, se pensavam que só as alcunhas do Alentejo (e os apelidos também, porque os alentejanos têm sobrenomes ultracoloridos) tinham graça, desenganem-se. Os Açores fazem boa concorrência.