As crises e Agustina
Ouvi recentemente esta história a Mário Cláudio, que tem uma grande ternura por Agustina, mesmo que tenha um dia escrito que ela era tão depressa uma espécie de mãe como uma bruxa a quem apetecia amordaçar. Num tempo em que Portugal se encontrava numa grande crise que não era esta (às vezes acho que a crise é o nosso estado quase natural e os bons tempos a excepção), Agustina foi convidada a ir com outros escritores a um festival literário perto de Bordéus. Por lá, havia bastante fausto e pompa, e o encontro realizava-se num château riquíssimo e belamente decorado. Antes do jantar, a castelã, calculando que Agustina precisasse de usar o toilette antes de se sentar à mesa e usando um eufemismo, perguntou-lhe se não queria “ir lá dentro”. Ao que a escritora do Norte terá respondido logo, lembrando a crise: “Não, obrigada, estamos numa altura de retenção.” Só ela.