Avant la lettre?
Hoje em dia estamos sempre a falar do politicamente correcto, até porque em nome dele se tem chegado a extremos de uma idiotice gritante. Mas lembro-me de que, ainda nos anos 1980, li um livro de crónicas de um historiador americano que apelava já para os perigos da doutrina do politicamente correcto, falando de um grupo feminista que queria mudar o vocábulo «woman» para «womin» só para não ter a partícula «man» lá dentro. Também o grande Julian Barnes, de quem li nestas férias O Papagaio de Flaubert (como é que ainda não o tinha lido é um mistério), escreve nesta obra vencedora de muitos prémios (curiosamente, tanto de ficção como de ensaio, porque se trata de um híbrido literário) muitas passagens que falam do politicamente correcto, entre elas a que cito abaixo:
«Hoje evita-se usar a palavra louco. Que disparate. Os poucos psiquiatras por quem tenho respeito falam sempre da loucura das pessoas. Usam as palavras curtas, simples, autênticas. Não digo […] desordem de personalidade […] Digo doida, é isso que digo. Doida tem o som certo, é uma palavra vulgar, uma palavra que nos diz como a loucura pode vir bater-nos à porta como uma camioneta de entrega de encomendas. As coisas horríveis também são vulgares.»
Um dia destes volto a este livro notável aqui no blog. Hoje foi só para sublinhar as tolices que por aí andam.