Caligrafia
Quando morrem, os poetas deixam-nos, regra geral, alguns poemas soltos que, por qualquer razão, não couberam em nenhum livro que publicaram. Às vezes deixam livros que estavam a escrever quase prontos, completamente arrumados; mas é raro terem um livro do passado, com mais de trinta anos, escrito de fio a pavio num caderninho e com todos os poemas datados (e não publicado na época em que foi escrito). Ora, Nuno Júdice escreveu um livro entre 1994 e 1995 que tinha título e tudo, escrito na primeira página de um caderno de capa de cabedal e folhas gramadas num jogo de três cores: Livro de Caligrafia. Este livro foi descoberto pouco depois da sua morte pelo poeta Ricardo Marques, que foi encarregado pela família de tratar do espólio de Nuno Júdice, e era claramente um livro independente com 28 poemas, treze dos quais sonetos (talvez o poeta não o tenha publicado na época por ser tão breve, quem sabe?). Reproduzido agora num volume publicado na Dom Quixote, inclui algumas das páginas originais fotografadas a cores e com a caligrafia (cal-i-grafia, em preto-vermelho-verde) do Nuno, incluindo as suas correcções em alguns dos versos (outros saíam-lhe já limpinhos) feitas com caneta de outra cor, fazendo pensar que num dia diferente do da escrita. Vamos espreitar? É sempre bom ler o Nuno.
P.S. Hoje às 18h00 vamos ter na Feira do Livro de Lisboa, na Praça LeYa, uma conversa entre o jornalista João Morales e o escritor Tiago Salazar a propósito do recentemente publicado O Judeu de Santa Engrácia, de que já aqui falei no blogue. Contamos com a sua presença!