Uma das maiores injustiças da Academia Nobel, quanto a mim, foi não ter dado o galardão ao talentosíssimo escritor italiano Italo Calvino, um fabuloso inventor de modos, estilos e universos literários que, além disso, tinha um humor notável. Bem sei que era ainda bastante jovem quando morreu, mas o Nobel já tinha contemplado escritores mais novos (Camus, por exemplo). Já aqui devo ter falado de vários dos seus livros, mas hoje lembrei-me de Palomar, mais outra maravilha de originalidade e empatia. O livro acompanha um senhor chamado Palomar em várias situações (desde as férias na praia até às compras no talho) para nos mostrar que nunca há só um ponto de vista sobre as coisas e que, se formos como Palomar, nunca conseguiremos escolher entre duas coisas de ânimo leve nem deixar o cérebro descansar um segundinho que seja. Basta ler o capítulo sobre a rapariga em top less e as questões que o senhor Palomar se põe sobre qual deverá ser o seu procedimento ao passar por ela para se saber que até à última página vamos ter muito com que nos deliciar. Leia-se este autor, por favor, com ou sem Nobel.
3 comentários
Anónimo 18.09.2020
O Visconde Cortado ao Meio é só o primeiro volume de uma trilogia apelidada Os Nossos Antepassados. Os outros volumes são O Barão Trepador e O Cavaleiro Inexistente, qualquer deles excepcional. Já os li há alguns anos e gostava de poder lê-los outra vez. Bom, a lista seria grande, mas a acrescentar a Palomar, Cidades Invisíveis, Seis Propostas para o Novo Milénio, Se numa Noite de Inverno um Viajante, acrescentaria Os Amores Difíceis e o ensaio Porquê Ler os Clássicos. Não, não os li todos, li quase todos. Italo Calvino não merecia só o Nobel mas todos os prémios do mundo.
Ainda não li Os Amores Difíceis, do qual se diz: "Em Os Amores Difíceis, o mestre da narrativa italiana tece histórias nas quais os enganos e as ilusões do amor incluindo do amor-próprio são dissipados em instantes mágicos de reconhecimento, e em que cada personagem descobre verdades ocultas sob a superfície da vida quotidiana. Um soldado tímido sente dificuldades de comunicação ao tentar seduzir, com manobras mudas, uma formosa viúva que se senta ao seu lado durante uma viagem de comboio; uma respeitável senhora vive o drama de perder a parte de baixo do biquíni ao nadar no mar quando a praia está repleta de gente; um leitor oscila entre a realidade densa da ficção e a fantasia erótica da realidade; um míope enfrenta as ambiguidades do uso de óculos; uma mulher casada descobre o adultério e o mundo no bar da esquina; um bandido e o sargento que anda no seu encalço passam a noite na cama da mesma mulher. Histórias que revelam o profundo sentido de composição de Calvino, atento aos mínimos detalhes, e onde ecoam influências de Maupassant e Tchékhov." Dá para aguçar o apetite?