Cinquentona
Ninguém imaginaria que Mafalda, a menina rebelde que odeia sopa e tem uma visão do mundo muito desassombrada, pudesse fazer este ano meio século. Na verdade, ela permanece igual, não envelhece apesar do correr do tempo que aos restantes traz rugas e cabelos brancos. E não envelhece sobretudo porque continua actual e oportuna num mundo que mudou imenso em muita coisa, mas é ainda o mesmo em quase tudo. Não consigo esquecer a lufada de ar fresco que foi descobrir este magnífico cartoon do argentino Quino (diminutivo de Joaquín) e as suas deliciosas personagens: além da própria Mafalda, claro, toda ela um programa, o Manelinho, o Filipe, o Miguelito, o Gui, a absolutamente irresistível Liberdade com a sua tartaruga Burocracia, e ainda a supremamente irritante Susaninha, capaz de me arrancar gargalhadas com as suas frases intempestivas. Numa tira desta banda desenhada, saindo de uma loja de artigos para o lar, vem um casal de braço dado; e a sempre romântica e sonhadora Susaninha observa o homem de alto a baixo, como se avaliasse mercadoria, e logo pergunta à senhora: Por quanto lho venderam? Mas a política nunca deixou de estar também presente nas notáveis histórias de Mafalda e abriu os olhos a muitos adolescentes, até em países com regimes ditatoriais, como era há cinquenta anos a terra natal do autor. Parabéns, Mafalda.