Clássicos juvenis
Há tempos, verifiquei que muitos dos clássicos juvenis foram apreendidos pelas crianças através do cinema, e não através da literatura. A Disney é provavelmente a grande responsável por isso, na medida em que adaptou ao grande ecrã algumas das histórias mais conhecidas de sempre (falo de Cinderela ou A Bela Adormecida, por exemplo, cujos filmes ainda foram feitos no meu tempo); mas o sucesso da indústria cinematográfica com esse tipo de filmes foi tão grande que, a partir de certa altura, os livros que passaram a circular com essas histórias foram sobretudo adaptações das adaptações com a marca Disney, quase nunca com o texto integral... Enfim, o que quero dizer é que a maioria das crianças e jovens (e adultos?) já hoje não sabe, por exemplo, que foram os irmãos Grimm que compilaram muitas histórias de tradição oral como Branca de Neve e os Sete Anões (na origem, alemã) e que outras, como A Gata Borralheira (provavelmente chinesa), já constavam de uma colectânea de histórias de fadas de Charles Perrault de 1697. Do mesmo modo, A Pequena Sereia (A Sereiazinha, quando eu era pequena) e O Soldadinho de Chumbo são histórias originais do grande escritor dinamarquês Hans Christian Andersen, e A Bela e o Monstro foi assinada por Gabrielle-Suzanne Barbot em 1740! A famosa Alice no País das Maravilhas começou nos livros de Lewis Carroll (e teve já demasiadas ramificações, uma delas num filme de Tim Burton), e As Viagens de Gulliver nem pouco mais ao menos se resumem à estadia de Gulliver entre os minúsculos liliputianos, encontro que corresponde apenas à primeira de quatro viagens do médico de bordo no livro original assinado pelo irlandês Jonathan Swift. Bem, eu sei que é muito difícil combater a imagem com o texto, mas a experiência de leitura das histórias em que os filmes se basearam é realmente fundamental para se conhecer a fundo os clássicos. Mesmo que já sejamos adultos, os livros estão aí para ser lidos.