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Horas Extraordinárias

As horas que passamos a ler.

30
Abr20

Clima de guerra

Maria do Rosário Pedreira

Nas vésperas de ser imposto o confinamento, os Portugueses já andavam transidos de medo e aconteceram duas coisas: no fim de semana de 14-15 de Março, as ruas ficaram vazias, como em Agosto, e os supermercados foram «assaltados», ficando com muitas prateleiras vazias. Lembro-me de que, quando precisei de legumes para a sopa dois dias depois, os stocks ainda não tinham sido repostos e senti-me em verdadeiro clima de guerra. Mas, embora o vírus seja muito difícil de conter e combater, embora seja um inimigo desconhecido e dissimulado, a verdade é que a situação dos fornecimentos de géneros alimentares se normalizou rapidamente depois desse primeiro susto, enquanto durante as duas maiores guerras que assolaram a Europa isso não aconteceu, e a fome grassou por todo o lado (mesmo em Portugal, que não entrou na Segunda Guerra Mundial, houve racionamento). A LeYa fez uma campanha para mostrar que já houve tempos bem piores do que os que atravessamos, só com livros sobre as duas Guerras Mundiais, e pode encontrar entre eles ficções dos geniais Primo Levi, Italo Calvin ou Gunther Grass, mas também biografias de Hitler ou Leni Riefenstahl, ou mesmo livros para jovens e crianças como O Rapaz do Pijama às Riscas ou O País das Laranjas, bem como obras de autores portugueses que tive o gosto de publicar: Perguntem a Sarah Gross, de João Pinto Coelho, ou Os Olhos de Tirésias, de Cristina Drios. Vão lá espreitar, que vale muito a pena, pois há grandes descontos em livros de fundo e títulos para todos os gostos. Até 10 de Maio.

https://www.leyaonline.com/pt/promocoes/grandes-guerras-ate-50-desconto/

Amanhã é feriado,volto segunda. Vou então recomendar, a propósito desta campanha, O Sistema Periódico, de Primo Levi, que eu própria traduzi com 29 anos; uma autobiografia literária que parte de elementos químicos para nos falar de uma vida muito rica e acidentada, que também passou por Auschwitz. Bom fim-de-semana.

 

 

7 comentários

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    Cristina Torrão 30.04.2020

    Os de Trás-os-Montes são completamente imunes a questiúnculas deste tipo, não têm uma ligação especial à cidade do Porto. Já D. Afonso Henriques se via aflito para os segurar, divididos na sua fidelidade entre Portugal e Leão.
    "Para lá do Marão, mandam os que lá estão".
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    Márito Torres 30.04.2020

    Gostei de a ler. E pelo que interpreto, até na imprensa, o Porto não quer ser capital de nada, mas tão só ver reconhecidas pelo centralismo as necessidades e a qualidade do que produz. Para ajudar a economia da sua região.
    Eu sou do Centro - que baila conforme a música. Concordo com o que diz dos trasmontanos. Mas o que eu gostava de saber era na sua opinião porque os galegos dividiram a lealdade mais para Leão do que para Portucale. Há algum motivo na História para isso? O Afonso Henriques bem tentou, tomou lá uns castelos, abriu a porta aos fidalgos de lá, mas a grande maioria no fim não se mexeu. Porque será?
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    Anónimo 30.04.2020

    Isso dava pano para mangas. Mas, muito resumidamente e num tom humorístico: D. Teresa, tão maltratada pela nossa História, tinha uma visão: tornar-se rainha da Galiza, unindo-a a Portucale. Os barões portucalenses não gostaram nada da brincadeira, puseram o filho contra ela, reduziram-na a uma viúva adúltera e correram com os galegos. Porque é que eles, depois, haveriam de ir na cantiga de Afonso Henriques?
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    Cristina Torrão 30.04.2020

    P.S. Desculpe, saiu anónimo, tinha-me esquecido que terminara a sessão no Sapo.
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    Márito Torres 30.04.2020

    Sim evidente. Obrigado.
    Descortina-se aí um contrassenso na obra tão bem feita como a independência portucalense e o posterior espaço vital.
    Mas também os castelhanos ainda hoje vêem a chegada do borgonhês D. Henrique como uma interferência francesa na Península. E assim D. Teresa de Leão poderia ter uma agenda secreta com Leão e deitar tudo a perder por parte dos condes portucalenses, fartos de reverenciar Castela e quererem à sua maneira o processo. Obrigado.
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    Cristina Torrão 01.05.2020

    Caro Márito Torres, como eu disse, o assunto dava pano para mangas e eu limitei-me a uma das muitas abordagens. Mas vou referir outro aspeto muito importante:

    À altura em que D. Afonso Henriques se tornou líder do condado Portucalense, com cerca de 20 anos, a Galiza já era um reino. Assim sendo, os galegos nunca aceitariam a sua inclusão em Portucale, daí, D. Teresa sempre ter planeado tornar-se rainha da Galiza e não de Portucale. Teria sido essa também a ideia inicial do filho? Bem possível. As suas incursões galegas começaram pouco tempo depois da Batalha de São Mamede, nos primeiros anos da década de 1130. Ora, ele só começaria a agir como rei de Portugal, depois de Ourique, em 1139, tendo falhado a sua tentativa de conquista da Galiza.

    Durante muitos anos, a nossa Historiografia difundiu uma imagem de D. Afonso Henriques como sendo uma personagem quase sobrenatural, uma espécie de Messias destinado por Deus a fundar o reino português e, por isso, obrigado a combater a mãe, que se aliara aos galegos por influência do seu amante. D. Afonso Henriques teria, portanto, agido, a fim de estabelecer uma qualquer ordem divina. Porém, as circunstâncias que levaram à formação do reino português são explicadas pela dinâmica da Reconquista, um quadro político específico, uma complicada teia de interesses e intrigas, num mundo feudal (não é, por isso, de admirar que D. Afonso Henriques tenha conseguido atrair alguns nobres galegos para o seu lado). Tudo isto não tira, como é evidente, prestígio ao grande homem que foi D. Afonso Henriques, fundador de uma nação, obra para a qual teve de lutar contra muitas adversidades, vindas tanto do mundo muçulmano, como do cristão (restantes reinos ibéricos).

    De nada, foi com muito gosto. Adoro falar sobre este tema. Por isso, eu é que lhe agradeço.
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