Com atraso
Ontem foi tudo uma correria, sobretudo por causa das formigas, e não falei do que deveria ter falado: de uma grande escritora portuguesa que, infelizmente, morreu no fim-de-semana. Falo, como já devem ter percebido, de Maria Velho da Costa, conhecida do público mais vasto como uma das três Marias das Novas Cartas Portuguesas, mas que vai muitíssimo além disso na sua carreira individual, sendo, aliás, pela sua genialidade, uma das vencedoras do Prémio Camões. A sua obra, notável acima de tudo pela inovação e experimentação linguística e o fascínio por cada palavra (inclusive pelo som), é considerada demasiado difícil para os leitores medianos, que têm um vocabulário cada vez mais curto e não parecem interessados em aumentá-lo (o que levou a que desaparecesse dos escaparates das livrarias e fosse arrumada lá para trás ou nem sequer encomendada); mas merecia ser mais divulgada nos anos terminais da Escola Secundária, em que os miúdos mais crescidos têm as suas capacidades no auge, porque é muito injusto que livros como Missa in Albis, Maina Mendes, Casas Pardas e outros fiquem na ignorância da maioria e acabem por se tornar meras referências em artigos especializados, mesmo que obviamente elogiosas. Disse um dia Robert Walser que nada é tão gratificante para um ser humano como conseguir superar-se. Então, hoje recomendo aos preguiçosos, desconfiados e de pé atrás que se superem e leiam esta autora; é difícil, pois é, mas vale o esforço.