Com e sem plano
A Sapo, que alberga o meu blogue desde 2010, destacava um dia destes na página de abertura um post de «Miss X» sobre Jorge de Sena no blogue Livrologia. Era interessante (voltarei, aliás, ao assunto ali tratado) mas incluía uma questão associada aos processos criativos que é o que hoje me traz a estas parcas linhas. Imagino que quem ministre cursos de Escrita Criativa (não na universidade, mas a pessoas que gostariam de organizar melhor as ideias que têm para contos ou romances) fale aos formandos da importância de ter, antes de começar, um plano bem traçado. Eu, quando escrevia livros juvenis, tinha sempre um plano detalhado, capítulo a capítulo, que seguia para não me perder, embora, claro, a história muitas vezes me fugisse da mão e fosse parar a outros lugares. Mas, quando ouço em entrevistas ao vivo, nomeadamente em festivais literários, os autores falarem dos seus processos criativos, ainda que alguns se refiram a uma ideia enraizada e a um plano do desenvolvimento, outros há que afirmam não ter sequer qualquer esboço da história quando começam um livro e que este, por assim dizer, se vai escrevendo a si mesmo. Ora, no blogue que referi no princípio, há uma deliciosa frase de Jorge de Sena, profícuo autor, que diz assim: «Nunca concebi nada antes de começar a escrever. Nada escrevi que de uma vez não escrevesse e não considerasse escrito de uma vez para sempre.» Maravilhoso, não é? Só a beleza e a força desta frase mostra que os planos podem realmente não fazer falta nenhuma à literatura.