Compras no estrangeiro
Uma vez fui a um festival de escritores nos arredores de Genebra, cujo país convidado era Portugal; e, numa manhã, Agustina Bessa-Luís convidou-me para a acompanhar, a ela e a Lídia Jorge, à cidade. Havia um outro poeta que estava interessado em ir connosco, Fernando Echevarría, mas a senhora do Norte tornou imediatamente claro que aquela excursão era apenas para mulheres. Pouco depois, percebi porquê: Agustina queria ir comprar, entre outras coisas, malas e sapatos (e até sabia onde ficavam as lojas que queria visitar e trazia os catálogos assinalados). Ao que parece, fazia-o sempre que se deslocava ao estrangeiro para festivais de escritores e contaram-me, a este respeito, uma história maravilhosa. Tendo sido convidada para um encontro de mulheres escritoras na Turquia, Agustina calhou numa mesa com uma palestiniana e uma israelita (além de uma outra portuguesa, que foi quem partilhou a história recentemente). Acontece que, na mesa em questão, os ânimos se inflamaram, e as escritoras da Palestina e de Israel, como era esperado, começaram uma discussão azeda que parecia não ter fim. Então, Agustina ter-se-á aproximado da sua conterrânea e ter-lhe-á sussurrado ao ouvido qualquer coisa como: «Ora bolas, e eu que só cá vim para comprar uns tapetes...»