Conferência no hospital
Desde há algum tempo que me venho queixando dos médicos, sobretudo em termos humanos. Por causa de uma dor terrível na anca, fui consultar um especialista que me indicaram, catedrático e tudo. Além da espera (já não se usa), quando entrei na sala e me preparava para contar a minha história, o senhor, sem sequer me cumprimentar, perguntou: «É para operar?» E disse-me que, se quisesse ser operada, teria de aguardar três meses, passando-me para a mão umas fotocópias que falavam da recuperação de seis semanas e tinham o telefone da secretária para eu lhe ligar se quisesse marcar a cirurgia. Viu-me? Não. Ouviu-me? Tão-pouco. Fez perguntas? Nem pensar nisso. Limitou-se a olhar para uma radiografia à bacia que eu fizera umas horas antes e a dizer que eu nem estava assim tão mal. Não volto lá, evidentemente, mas o problema é que não foi o primeiro caso. Antes tinha sido operada à coluna duas vezes por causa da mesma dor, e afinal o problema era a anca. Acho que os médicos estão a precisar de umas horas de Humanidades a ver se se tornam mais humanos... E são bons sinais desde logo as aulas de Poesia que o Prémio Pessoa João Luís Barreto Guimarães (ele próprio médico) dá no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (de que já aqui falei); mas também a conferência de Martim Sousa Tavares que a empresa DST (uma empresa de construção que tem dado passos muito importantes na formação cultural e promove anualmente um prémio literário) organizou no Hospital de Braga sobre a forma como a arte e a cultura podem influenciar positivamente as comunidades e como, no fundo, uma orquestra é o exemplo de uma organização: há alguém que rege, mas são os músicos que fazem o trabalho. Parabéns à DST pela iniciativa e um apelo às empresas para que sigam estes exemplos e vão aos hospitais tornar os profissionais gente melhor, em quem nós, doentes, possamos realmente confiar.