Criticar a crítica
Em Portugal, o espaço para a crítica de livros nos meios de comunicação é tão diminuto que, na verdade, os críticos optam geralmente por promover obras de que gostam e acham que devem ser lidas, sendo geralmente brandos quando se sentem mais desiludidos com algum livro. Quando o número de títulos publicados era muito menor do que hoje, havia bastantes mais polémicas entre críticos e autores e até entre académicos «pró» e «contra» um novo autor; mas actualmente os críticos que só querem ofender ou chatear são sempre os mesmos, pelo que já poucos se inquietam verdadeiramente com o que escrevem. Isso não acontece, porém, em outros países e, especialmente aqui ao lado, os críticos espanhóis não poupam os autores a uma brutalidade às vezes excessiva quando estes já mostraram que eram capazes de melhor. É lícito, evidentemente, que mostrem desagrado, mas também acontece serem irresponsáveis e apanhados em falso, tantas vezes se percebendo que tão-pouco se preocuparam em ler até ao fim o que tão veementemente criticam. E, apesar disso, como escreveu recentemente Javier Cercas no El País, porque será que existe a «superstição» de não criticar o crítico mesmo quando a crítica é gratuita e injusta (referia-se a um texto sobre um livro de Manuel Vilas)? Normalmente, quem responde ao crítico acaba por sublinhar o que fez menos bem? Não faço ideia, mas muitas vezes aconselhei autores a ignorar o pontapé e deixar andar. Porquê? Talvez para nos pouparmos todos a mais sangue. Mas não seria lícito ripostar, abrir a ferida do outro? Uma pergunta que deixo aos Extraordinários.