Cuidar da língua outra vez
Ontem falei de ortografia e dos cuidados a ter com a língua; e de repente apanhei um artigo em que um autor que todos conhecem, João Tordo, afirma ter aprendido a cuidar da língua com a procura constante de sinónimos que não atravancassem a sua gaguez, uma vez que palavras começadas por determinados sons (p, t, q, por exemplo) complicam enormemente a vida a um gago. Ele diz que em pequeno tinha complexos, mas que já lhe passaram. E tem razão, até porque houve muitíssimos escritores gagos antes dele, e a respectiva escrita não pareceu minimamente afectada por esse facto e, se o foi, deve ter sido positivamente. Falo, por exemplo, do grande Cervantes ou do incrível Lewis Carroll (a Alice não gagueja, que me lembre); Machado de Assis e Henry James, Darwin e Updike, e também do homem que foi brindado inesperadamente com o Nobel da Literatura, Winston Churchill! Todos eram gagos, mas não com a caneta, está visto; e é bom saber que há quem tire de uma limitação a hipótese de enriquecer o seu vocabulário, sobretudo num tempo em que o número de palavras usadas pelas pessoas quotidianamente é tão limitado. Parabéns a João Tordo pela sua estratégia. Quem sabe se não terá sido ela que o levou a ser escritor...