Dádivas
Uma das coisas boas deste blog é quando os seus leitores contribuem também eles com ideias para posts, o que aconteceu recentemente com Octávio dos Santos, que me enviou um link para um artigo muito interessante sobre a meia centena de artistas que, em 1940, atravessaram a fronteira francesa antes que fosse demasiado tarde e foram salvos com a ajuda do cônsul português em Bordéus, Aristides de Sousa Mendes, que nesses dias loucos deu vistos a centenas de pessoas. Mas, embora o facto não seja desconhecido da maioria dos Extraordinários e da maioria dos portugueses minimamente informados (recentemente foi aprovada por unanimidade no Parlamento a proposta de levar Sousa Mendes para o Panteão Nacional), a verdade é que só há algum tempo a investigação para uma tese de mestrado transformada em livro (A Lista de Aristides Sousa Mendes, de Ana Cristina Luz) trouxe à luz muitos nomes que não sabíamos estar entre os que o cônsul português salvou, tais como os do pintor catalão Salvador Dalì (e Gala, a sua musa e mulher), o pianista polaco Witold Malcuzynski (que inspirou Maria João Pires), o pintor Ivan Sors (que esteve refugiado na Figueira da Foz e foi retratado por Afonso Cruz no livro O Pintor debaixo do Lava-Loiça), o actor Robert Montgomery e muitos outros. A lista é longa e o livro sobre esta dádiva de Aristides às artes merecerá decerto ser lido. A primeira apresentação decorrerá no próximo dia 19 de Julho em Cabanas de Viriato, na Casa do Passal que, precisamente, foi de Aristides Sousa Mendes.
Hoje recomendo, até porque vem a propósito, A Mais Preciosa Mercadoria, de Jean-Clude Grumberg, uma obra-prima minúscula sobre um casal que não teve a sorte de ter um Aristides Sousa Mendes no seu caminho, e o precioso Perguntem a Sarah Gross, de João Pinto Coelho, acabado de sair em versão audiobook.