Descuidos
Hoje em dia, permanentemente vigiados, temos de ter especial cuidado com o que dizemos e escrevemos. E até com o que outros escrevem por nós... Eu explico: há uns quinze dias pediram-me para escrever um texto sobre Amália Rodrigues para um número dedicado ao seu centenário, uma vez que escrevi uma pequena biografia da diva para crianças. Nesse texto explicava que a sua infância tinha sido tremenda (miséria e trabalho infantil) e que, além do talento, que não era responsabilidade sua (ela até dizia «Foi Deus»), Amália tinha «qualidades extraordinariamente raras numa mulher que não pôde frequentar a escola» (a sua descoberta da poesia erudita, por exemplo, e as letras que escreveu). Ora, a frase escolhida para o destaque foi mesmo essa, só que, como não cabia toda, quem paginou resolveu parar antes do fim, escrevendo «... qualidades extremamente raras numa mulher». Mas estas pessoas que paginam jornais não pensam nem por um minuto no que estão a fazer? É que há muita gente que só lê títulos e destaques e o mais certo é eu levar na cabeça das mais radicais feministas por uma coisa que não disse. Nos EUA seria banida de muitas revistas e jornais só por este descuido... O que me vale é que já disseram que me iam pedir desculpa.