Desinformar
Durante muito tempo, os jornalistas não escreviam ao de leve sobre o que não sabiam – e, se lhes calhava terem de escrever sobre a realidade de um país que não conheciam, investigavam e liam para não dizerem disparates. Mas hoje, postos um pouco de lado os livros, a Wikipédia é muitas vezes a principal fonte de pesquisa de um jovem jornalista – e a Internet, como todos sabemos, apesar de muito útil, está cheia de incorrecções e imprecisões. Daí que, de vez em quando, alguns jornais e televisões (não falo só dos portugueses) nos ofereçam visões completamente redutoras de determinados países. Penso, por exemplo, que a maior parte do público que não lê livros nem sabe de História, influenciada pela narrativa do terrorismo actual veiculada pelos media, imagina a maioria dos países islâmicos como uma espécie de terra de bárbaros entalada no deserto, sem água nem luz e com camelos em vez de automóveis… Chama muito justamente a atenção para este problema o meu colega blogger Ricardo Jorge Pereira em Uso Externo, indignado com o facto de lhe apresentarem tantas vezes o Irão como berço de terroristas e país de selvagens quando o país (ah, a velha Pérsia e a sua longa história) já tinha, por exemplo, uma taxa de literacia que rondava os 80% há dez anos e tem hoje a maior livraria do mundo, que fica em Teerão. Também o fotógrafo Alfredo Cunha descreveu há pouco tempo ao Manel a parte curda do Iraque como incrivelmente organizada e interessante, mas acho que não é essa a ideia que costumam passar-nos. Por isso, vale sempre a pena confirmar e completar dados e não tomar a parte pelo todo. Os livros dão, claro, uma boa ajuda.