Diário-documento
Há muitos anos, tive oportunidade de ouvir excertos de um diário de Eduardo Lourenço durante as Correntes d’Escritas, na Póvoa de Varzim, numa sessão em que o filósofo era a personalidade que abria as hostilidades e estava a ser apresentado por José Carlos de Vasconcelos. E que beleza, eram realmente pequenos poemas as suas magníficas frases sobre o tempo em que vivia. Pensei cá para mim que adoraria ler esses pequenos apontamentos diarísticos, mas eles não estavam publicados. Porém, acabo de ler que a Biblioteca Nacional adquiriu o espólio de Eduardo Lourenço e o vai integrar no Arquivo de Cultura Portuguesa Contemporânea. São óptimas notícias, claro, não só para esta curiosa, que quer reler o que uma vez ouviu ao vivo – essa espécie de «diário cultural», como o filósofo lhe chama –, mas para todos, pois Eduardo Lourenço tem literalmente milhares de documentos desde os anos 1940, entre os quais correspondência trocada com escritores como Vergílio Ferreira ou Sophia de Mello Breyner Andresen e muitos textos inéditos, alguns dos quais sobre arte e música. Como referiu o Secretário de Estado da Cultura na sessão que assinalou a compra do espólio, «trata-se de um bem cultural fundamental para a investigação filosófica, literária, histórica e sociológica não só da obra de Eduardo Lourenço, mas do pensamento português dos séculos XX e XXI». A obra completa do autor será também publicada pela Fundação Gulbenkian. Boas notícias.