Ecos de Eco
Tendo morrido há coisa de três anos, Umberto Eco continua, ainda assim, a fazer eco pelas nossas vidas, e não só pelos livros que deixou escritos. Recentemente, encontrei um velho artigo numa revista espanhola (um daqueles acasos em que estamos muito decepcionados com o presente e dá jeito encontrar algo que faça sentido) que, embora não especialmente laudatório para o escritor e pensador italiano, trazia muitas frases dele retiradas de entrevistas que, seguramente, ficarão para a história (e na nossa memória). A primeira – que é conhecida e talvez até já a tenha partilhado aqui a propósito do argumento ecológico contra o livro em papel – é que, se todos os chineses usassem papel higiénico, não haveria bosques (já vi que costumo citar mal; digo: «Se todas as pessoas do mundo […] não haveria planeta», mas não é grave). Quase como profecia (essa entrevista fora dada em 1997 e temia-se pelo futuro do livro por causa do advento do digital), está a afirmação de Eco de que a Xerox teria um projecto utópico sobre as bibliotecas que era pô-las em rede; as pessoas teriam então uma máquina em casa ou no trabalho para aceder aos livros e seria tudo muito simples (projecto que ao filósofo parecia muito melhor do que a pirataria das fotocópias e mais fácil de controlar os direitos de autor). E esta, hã? Não andou muito longe da verdade. Mas a minha tirada preferida é esta: «Nem racistas nem leis poderão evitar a grande mestiçagem cultural que se avizinha.» Que sonho fantástico, senhor Eco. Mas será mesmo assim, apesar do Erasmus e outros programas do género? Umberto Eco, que dizia que os escritores não deveriam fazer profecias nem futurologia, não chegou a saber de muitos muros foram construídos no mundo para evitar essa «mestiçagem»…