Elegia vencedora
Numa manhã gelada de dezembro, Kyungha recebe uma mensagem da sua amiga Inseon – internada num hospital de Seul na sequência de um ferimento grave – pedindo-lhe que a visite urgentemente. Quando Kyungha chega à enfermaria, Inseon conta-lhe que veio de avião da ilha de Jeju para ser tratada urgentemente e implora-lhe que vá a sua casa dar de comer e beber ao seu periquito, que de contrário morrerá. Uma tempestade de neve fustiga a ilha à chegada de Kyungha e muitos dos autocarros foram cancelados ou sofreram atrasos. Kyungha não sabe se chegará a tempo de salvar a ave – nem mesmo se sobreviverá ao frio tremendo daquela noite; e não sabe também a vertigem que a aguarda em casa da amiga, onde uma história há muito sepultada acabará por revelar-se, documentando um terrível massacre ocorrido muitos anos antes em Jeju. Despedidas Impossíveis, o mais recente romance de Hang Kang, vencedora do Prémio Nobel da Literatura em 2024, é um hino à amizade e um poderoso manifesto contra o esquecimento. Como um longo sonho de inverno, estas páginas belíssimas iluminam uma memória traumática, enterrada ao longo de décadas, que ainda hoje ecoa no peito de muitas famílias coreanas. Saiu ontem, com tradução de Maria do Carmo Figueira e Ana Saragoça. Ganhou o Médicis para ficção estrangeira em França, ex-aequo com Misericórdia, de Lídia Jorge.