O que fazem os Extraordinários por estes dias é seguramente conviver com escritores e textos (eu também, até por razões profissionais). Mas conviver com livros é muito diferente de conviver (sem ser metaforicamente) com os seus autores. Ora, alguém no Reino Unido teve a bela ideia de criar conjuntos de escritores de várias épocas e géneros e metê-los ao molho numa casa. E, depois de formadas várias casas, o jogo é procurar a casa em que nos pareceria que viveríamos melhor durante o período de confinamento. Eu olho, olho, e na verdade, apesar de achar que seria feliz na Casa 5 (com os poemas de Dickinson e Eliot, a imaginação de García Márquez e as maravilhosas lições de Nabokov), também penso que a Casa 1 teria a sua graça, com as piadas inteligentes de Wilde e o génio de Flannery O'Connor (e muita animação brechtiana). Divirta-se com isto e veja qual é a casa em que se sentiria melhor e não daria em doido. Aproveite para ver quem é quem (os que não conhece).
Como falei de Wilde, hoje sugiro O Retrato de Dorian Gray ou os seus contos, um dos quais (O Fantasma de Carnterville) prefaciei recentemente para uma edição da 20|20. Não ponho os tradutores porque já não chego à prateleira de Wilde...
5 comentários
António Luiz Pacheco 20.04.2020
Ora aí está chão para batatas!!!! Ou a 1 ou a 4 ... se bem que não saiba quem é a Ana Haterly. Não vejo o Camilo, J. Diniz, Aquilino... e outros que gostaria de poder conviver com, mas gosto mais da sua proposta!
Ana Hatherly tem uma colectânea de poemas lindíssimos que se chama "quatrocentas e sessenta e três tisanas". Há, ou havia no canal 2 um belo programa sobre leitura e livros, com leitura e declamação. Num deles um actor da nossa praça, que declama e lê muitíssimo bem, declamou Hatherly. Foi aí que eu a conheci e lhe segui no encalço. Eu julgo que ela incorpora a corrente do experimentalismo na literatura. Foi editado há algum tempo uma colóquio/letras sobre o experimentalismo, e o nome que aparece em destaque é Ana Hatherly. O livro que refiro, das tisanas, foi editado pela "Quimera" em 8/2006 e encontra-se melhor nas livrarias alternativas. Nas chamadas "livrarias tipo supermercado" não deve encontrar isso. Tenho também outro livro dela, "O mestre", editado pela "Arcádia", que ainda não li. Boas leituras.
O programa já teve várias "temporadas", se assim se lhes podem chamar, com nomes diferentes. Esse deve ser o nome actual. Sim, é justamente com o Pedro Lamares e julgo que também tem uma voz feminina, também ela com uma excelente locução, que lamentavelmente, não de propósito mas por pura ignorância, desconheço.