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Horas Extraordinárias

As horas que passamos a ler.

22
Out14

Envenenados

Maria do Rosário Pedreira

Muitos dos autores de ficção que publiquei ao longo da vida eram também poetas. Alguns, aliás, já eram poetas antes de se terem tornado ficcionistas (José Luís Peixoto e valter hugo mãe, por exemplo). Diz a crítica que é difícil jogar nos dois lados com o mesmo nível – e talvez por isso uma das artes impere sobre a outra, fazendo com que determinado autor seja sempre conhecido ou como poeta ou como prosador (Saramago foi um romancista de excepção, mas a sua poesia não é muito difundida). Em todo o caso, não convém generalizar: acabo de ler O Uso dos Venenos, uma colectânea de poesia de José Carlos Barros, e não a acho nem superior nem inferior ao romance que dele publiquei no ano passado – Um Amigo para o Inverno – que foi finalista do Prémio LeYa em 2012. Vejo entre os dois livros pontos de contacto inequívocos, uma ligação às origens, à ruralidade, à memória. Até alguns objectos e palavras se cruzam nos dois volumes. Pedro Mexia, numa crítica ao poemário, fala de uma reunião de textos «com uma tonalidade humanista e melancólica que não teme o poético». Um exemplo, para que fiquem a conhecer melhor:

 

Ruína

 

Guardava a casa, o lume intemporal, como outros

guardam uma língua ou escondem da usura

alguns aspectos de uma biografia. Guardava a casa

como se não houvesse mundo além da escaleira

 

ou ao mundo não fosse dado entrar atravessando

a porta. É difícil compreender agora que a ruína

possa começar assim pelo lado de dentro, do interior

dos objectos que se chegou a supor imperecíveis.

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