Equipas
Já aqui falei recentemente de uma Taça da Literatura organizada por uma universidade, que decorre ao mesmo tempo que se realizam os jogos do Mundial de Futebol. Pois, pelos vistos, houve mais quem se lembrasse deste tipo de paralelismo, entre desporto e literatura. O Grupo Penguin, talvez o maior aglomerado editorial do mundo e seguramente um dos mais ricos, decidiu criar a Penguin Cup, apresentando aos leitores do seu site os «onze» das equipas concorrentes; não de todas as que entram na Copa do Mundo, bem entendido, pois provavelmente não haverá escritores conhecidos suficientes em algumas delas; em todo o caso, de dezasseis nações, que incluem – para não falar dos países de língua inglesa – o Brasil, a Argentina, a França, a Alemanha, o Japão ou Portugal. Não tenho ideia de quem escolheu o nosso onze, mas o que se diz é que ele podia ser inteiramente constituído por Pessoa & heterónimos, só que isso constituiria uma equipa demasiado desassossegada; em vez disso, puseram o dito Fernando como avançado central, enquanto a baliza foi preenchida por Lobo Antunes. À defesa, estão dois mortos, Aquilino e Antero, ladeados por dois vivos, Lídia Jorge e Miguel de Sousa Tavares (o único dos quatro que deve gostar de bola). Num meio-campo mais poético, jogam Camões, Garrett e Mário Cláudio (agradeço a escolha do último, como sua editora). E, de cada lado de Pessoa, Camilo e Saramago candidatam-se a goleadores. E explica-se: «A literatura portuguesa é talvez menos conhecida no estrangeiro, sobretudo nos países anglófonos, do que a dos seus vizinhos europeus, mas tem uma tradição fantástica e produziu obras notáveis e seminais.» Pode ser que ganhemos leitores, já que no futebol deixamos muito a desejar.