Escrever e aprender
Não sou, já aqui o disse, grande apologista de cursos de Escrita Criativa. Parece-me que o talento não se arranja neles e que muitos dos seus frequentadores sem talento atafulham depois a minha caixa de correio electrónico com propostas que mais valia terem ficado na gaveta (ou até por escrever). Mas também sei que muitos destes cursos podem ajudar os que já têm talento a organizar as ideias, a encontrar o tom, ou até a escrever melhor um texto que nada tenha que ver com ficção. E não duvido de que ouvir «lições» de quem é profissional da escrita é certamente uma benesse. Até por isso, interessei-me pelo livro Manual de Sobrevivência de Um Escritor, de João Tordo, que acrescenta ao livro um subtítulo que desarma: o pouco que sei sobre aquilo que faço. E nem é porque ele me recorde no seu caminho de escritor num ou noutro passo do livro (fui sua editora muitos anos) que o recomendo aqui, mas sobretudo porque, longe de funcionar como a maioria desses cursos, é um conjunto de experiências e conselhos para quem pensa tornar-se escritor que servirá, em muitos casos, para que alguns escolham mesmo outra vida... É que, como sabe quem escreve (e João Tordo teve de lutar muito para poder sobreviver escrevendo a tempo inteiro), não é uma vida fácil... Vale muito a pena ler e levar a sério. Tiro o chapéu, aliás, a várias afirmações que muitos outros escritores que conheço nunca fariam. Leiam-no, pois.
Hoje recomendo também um livro de um homem que não escreveu sobre a escrita, mas sobre a leitura: Dicionário dos Lugares Imaginários, de Alberto Manguel (que leu para Borges em jovem), mil e tal páginas maravilhosas sobre mundos que só existem nos livros, como Avalon, Xanadu, Macondo e muitos mais.