Escritor-Editor
Quando me pedem um depoimento sobre qualquer coisa, não é raro que debaixo do meu nome apareça escrito: Editora e escritora (ou vice versa). Não sou caso único em Portugal (lembro-me, por exemplo, de Francisco José Viegas, mas há outros exemplos); a mesma pessoa escrever e editar livros é, de resto, uma circunstância bastante comum no universo de língua inglesa. A grande escritora Toni Morrison (que ganhou o Nobel da Literatura) trabalhou muitos anos na Random House como editora, primeiro na área escolar e, depois de publicar o seu primeiro romance, no departamento de ficção. A canadiana Margaret Atwood teve a mesma função numa editora do seu país, tendo inclusivamente editado livros de Michael Ondaatje, o autor do famoso O Paciente Inglês. Também David Ebershoff, autor de livros como A Rapariga Dinamarquesa, foi até há bem pouco tempo editor e, ao que dizem, de muitos autores premiados, entre os quais Teju Cole, Joyce Carol Oates e David Mitchell. O mesmo acontece com o romancista Max Porter (não li ainda nada dele) que é, na Granta, o editor de autores como Rebecca Solnit e Han Kang e que diz que «o editor tem de ser parte revisor de provas, parte terapeuta». A lista inclui outros escritores, embora não muito conhecidos entre nós, dos quais destaco Gordon Lish, editor do celebérrimo Raymond Carver, que, segundo leio, tem peças de teatro que seriam uma boa réplica americana a Samuel Beckett e Thomas Bernhard, mas que é mais conhecido pelo seu trabalho na edição. Neste post, «editor» deve ser lido como pronúncia inglesa, pois não corresponde ao que publica, mas ao que lê e corrige o texto e organiza edições.